PERSPECTIVAS FILOSÓFICAS DA ESPIRITUALIDADE NA EDUCAÇÃO

PERSPECTIVAS FILOSÓFICAS DA ESPIRITUALIDADE NA EDUCAÇÃO

Valdeci Antônio Dorneles [1]

RESUMO

Este estudo procura refletir acerca das perspectivas filosóficas da espiritualidade na educação a partir de pesquisa bibliográfica. O objetivo geral desse trabalho foi pensar através da produção teórica existente, as possíveis relações entre Filosofia, Cristianismo e Educação, bem como a sua relevância nas relações humanas que se processam no espaço educativo. Percebe-se em certos pontos que as ideias convergem, assim como em outros se tornam controversos. Porém, a possibilidade de compreender o modelo de Cristo como direcionamento de postura de vida e comportamentos, poderá servir para conquistar avanços extraordinários no resgate de valores, princípios e atitudes que fazem muita diferença na vida humana. Como a paz, o amor ao próximo e a intencionalidade pedagógica que remete a qualidade de vida, transcendendo o conteúdo e a própria ciência.


[1] Pedagogo – Supervisão e Administração escolar – FEEVALE – Novo Hamburgo, ano 2000. SOCIOLOGIA, UNIP – Ator, mágico e diretor artístico. Especialização em Biodança – Federation Internationale de Education Phisique/FIEP. Foi assessor da coordenação da subsecretaria do menor de Campo Bom, de 1989 a 1996 – órgão que coordena 21 núcleos de trabalhos com crianças – Educação Infantil e atividades extra classe com alunos de 0 a 14 anos. Implantação de trabalhos com meninos em situação de rua em Campo Bom. Pesquisador e escritor de 02 livros já publicados e de 2 CD’s com uma coletânea de músicas do folclore infantil e músicas para brincar.

Palavras-chave:

Espiritualidade, Educação, Filosofia, Deus, Ensino

PERSPECTIVAS FILOSÓFICAS DA ESPIRITUALIDADE NA EDUCAÇÃO

O presente artigo cumpre a designação do curso de Metodologia do Ensino de Filosofia e é resultado de um trabalho de pesquisa bibliográfica sobre as perspectivas filosóficas da espiritualidade na educação.

Sendo assim, as reflexões epistemológicas acerca do assunto, despertaram mais dúvidas do que certezas, mais perguntas do que respostas. Porém, provocou o entendimento que a espiritualidade é uma ferramenta de suporte transversal de grande relevância para a educação. 

Como afirma mestre Rubem Alves em “A alegria de Ensinar” A educação, fascinada pelo conhecimento do mundo, esqueceu-se de que sua vocação é despertar o potencial único que jaz adormecido em cada estudante. Daí o paradoxo com que sempre nos defrontamos: quanto maior o conhecimento, menor a sabedoria.

Nesse sentido, incluir a espiritualidade no ensino, supera a própria ciência. É ir além de uma dimensão terrena com conteúdos fragmentados, pois inclui os recursos da fé, dos valores e princípios da vida, que elevam o ser humano a outro nível de evolução.

Por bastante tempo a espiritualidade experimentou um exílio epistemológico imposto pela ciência moderna. Porém, percebe-se na contemporaneidade, certo interesse filosófico, científico e religioso em debater novamente esse tema. Nessas idas e vindas, do interesse humano por justificativas de sua existência, normalmente, são nos momentos de dificuldades, ou quando percebe que os seus recursos intelectuais são falíveis, que o sujeito busca explicação para além da racionalidade cognitiva e daquilo que está no seu campo de visão de forma mais concreta.

O sociólogo polonês Zigmund Bauman, (2004) questiona: “Não é verdade que, quando se diz tudo sobre os principais temas da vida humana, as coisas mais importantes continuam por dizer”? (pag.9) Nesse sentido, temos a consciência que o único detentor de todo o saber é o Criador. É aquele que deu ao homem o fôlego da vida.

Portanto a sua palavra, através das escrituras sagradas, foi um dos princípios norteadores desse estudo. Conforme provérbios 16.20, “O que atenta para o ensino acha o bem, e o que confia no Senhor, esse é feliz”.

Dessa forma, usufruiu-se o acervo de conhecimentos disponíveis por meio desse conjunto de livros sagrados, reveladas nas mais diversas culturas e tradições espirituais. São saberes que contemplam de forma especial o que se busca da transcendência, Deus, ética, cosmogênese, origem do universo, ontologia, metafísica, capazes de direcionar sobre outras concepções de vida, de educação, de Deus, de mundo.

De acordo com o direcionamento espiritual de cada sujeito humano, na Bíblia Sagrada encontram-se respostas e práticas dignas, autênticas, lógicas, satisfatórias e belas aos problemas da vida e ao sentido do viver, que merecem ser investigados ou assumidos no fazer educativo, intelectual e no cotidiano da existência. Segundo Silva 2004, Tudo que Deus tem para o homem e requer do homem, e “tudo que o homem precisa saber espiritualmente da parte de Deus quanto à sua redenção, conduta cristã e felicidade eterna, está revelado na Bíblia” (P.8). Isso independe de denominação religiosa.

Ciente dessa condição, esse estudo adotou uma tendência para a importância do Cristianismo, enquanto dimensão de exercício espiritual, bem como a sua influência no comportamento humano na caminhada educacional.

CAMINHOS PERCORRIDOS

Nesse ponto, surge a problemática que esse estudo vai tentar refletir; como é tratado o tema da espiritualidade na educação através dos tempos pelos filósofos clássicos e contemporâneos?

O objetivo geral desse trabalho foi o de pesquisar e refletir através da produção teórica existente sobre as perspectivas filosóficas do Cristianismo, bem como a sua relevância na educação.

E os objetivos específicos que nortearam essa caminhada foram; analisar conceitos produzidos pelos Filósofos clássicos e contemporâneos acerca da espiritualidade. Compreender a importância desse tema no ambiente educacional e sua influência no comportamento humano. Despertar o interesse no tema proposto por parte do público atuante no âmbito da educação.

É sabido que definir a metodologia de uma pesquisa, ou de um projeto requer atenção e objetividade. Por isso, esse trabalho seguiu os rumos direcionados pela pesquisa qualitativa, onde é importante saber, que essa linha de pesquisa assume diferentes significados no campo filosófico e das ciências sociais, compreendendo um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam descrever e a decodificar os componentes de um sistema complexo de significados, tendo por objetivo traduzir e expressar os sentidos e os fenômenos do escopo estudado.

 […] a pesquisa qualitativa tem suas raízes nas práticas desenvolvidas pelos antropólogos, primeiro e, em seguida pelos sociólogos em seus estudos sobre a vida em comunidades. Só posteriormente irrompeu na investigação educacional. (TRIVIÑOS 1987, p.120)

Portanto, essa é uma pesquisa bibliográfica, com base em publicações impressas e online, além das apostilas de estudos do curso Metodologia de Ensino da Filosofia, utilizaram-se clássicos da Filosofia como: Sócrates, Platão, Aristóteles, entre outros desse período. Além desses, pesquisou-se como base teórica as Escrituras Sagradas, Teólogos com John Stott e autores contemporâneos.

Na sequencia, procurou-se problematizar esses apontamentos, aproximando-os, ou confrontando-os, no sentido de entender como essa temática vem sendo discutida, ao longo do tempo, além de direcionar as lentes para a sua importância no interior do ambiente escola, como possibilidade de resgate dos princípios e valores que vem se perdendo com tempo. Sobretudo, virtudes como: fraternidade, solidariedade, paz, amor ao próximo, fé e esperança.

Nesse sentido, essas duas dimensões, do ensino/aprendizagem e a cosmo gênese da fé/espiritualidade, preenchem o vazio existencial e apontam para a luz que sinaliza o rompimento com a ignorância, a desesperança e as inquietações da alma.

Sendo assim, aproximaram-se as dimensões espirituais, filosóficas e pedagógicas vislumbrando os seus resultados no ambiente escola.

ESPIRITUALIDADE E FILOSOFIA, ENCONTROS E DESENCONTROS

A filosofia, ao nascer, buscava uma explicação racional sobre a origem e ordem do mundo, o kósmos. Já a dimensão da espiritualidade crê que tudo foi criado e se mantém por uma ordem e vontade de Deus, conforme registrado no livro da criação, Genesis, a partir do capítulo um. Porém, mesmo exercendo a racionalidade diante da grandiosidade e riqueza de detalhes, na concepção do mundo e da vida, fica evidente que existe algo maior que gesta todo esse sistema vivo.

Ao pensar Filosofia e Espiritualidade, é fundamental entender um pouco a história de dois personagens importantes nesse campo, ou seja, Sócrates e Jesus Cristo.

É possível traçar um paralelo entre a vida de Cristo e a do Filósofo Sócrates 427 – 347 a.C. ainda que os desígnios que moviam os dois eram distintos, houveram algumas semelhanças interessantes.

Cristo, da mesma forma que Sócrates, não chegou a deixar obras escritas. Assim como os discípulos de Cristo foram registrando seus ensinamentos, que temos acesso hoje através dos Evangelhos que estão na Bíblia, considerada a Escritura Sagrada. Platão, discípulo de Sócrates, foi quem escreveu suas ideias, disponíveis hoje em diversos livros.

Ambos morreram como se fossem criminosos, vítimas do fanatismo e por terem a ousadia de questionar as crenças tradicionais. Embora as motivações de cada um tenham sido muito diferentes, superaram a hipocrisia com virtude e combateram os preconceitos.

Sócrates assim como Jesus foi acusado pelos fariseus de corromper o povo com os seus ensinos. Mesmo contra a vontade de seus discípulos, ambos entregaram a vida por um propósito. Embora o Filósofo defendesse a força da sua arte a ponto de morrer por ela, ou como afirmou em a teoria das ideias (2013, P. 125) “E o que queremos, vamos dizer de uma vez por todas, é a verdade”. O que acreditava ser possível se libertando do corpo e priorizando a alma,

…a experiência nos ensina que se quisermos alcançar o conhecimento puro de alguma coisa, teremos de nos separar do corpo e considerar apenas com a alma como as coisas são em si mesmas. Só nessas condições, parece, é que alcançamos o que desejamos, a sabedoria, ou seja, depois de mortos, conforme o nosso argumento indica, mas nunca enquanto vivermos. (Platão 2013, p. 125).

Já Cristo de forma incomparável morreu por amor à humanidade, na condição mais violenta que se poderia imaginar, pregado na cruz, como afirma Stott 2006, o método mais cruel de execução jamais praticado, pois deliberadamente atrasa a morte até que a máxima tortura seja infligida. Antes de morrer a vítima poderia sofrer durante dias. (P.22).

Por outro lado, o amor sem medida de Deus utiliza-se desse meio impactante, para provar o amor pela sua criação. Conforme afirma o autor, “… a cruz é o único lugar em que o Deus amoroso, perdoador e misericordioso é revelado de tal modo que percebemos que a sua santidade e o seu amor são igualmente infinitos” (p. 135). Sobre o amor de Cristo, pode se dizer que é a essência que exala através das escrituras de forma intensa, pura e justa. Como fica claro em 1 João 4:9-11,

Foi assim que Deus manifestou o seu amor entre nós: enviou o seu Filho Unigênito ao mundo, para que pudéssemos viver por meio dele. Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Amados, visto que Deus assim nos amou, nós também devemos amar uns aos outros.

Tanto Sócrates, quanto Jesus, proclamaram a unicidade de Deus, a imortalidade da alma e a existência da vida futura. Posicionamento que ia contra os interesses e até mesmo crenças arraigadas de forma atávica e insipiente do povo daquele tempo.

Podemos perceber também o posicionamento do filósofo no livro Apologia de Sócrates, onde afirma através de Platão as suas fragilidades em desconhecer os mistérios que envolvem os conhecimentos acerca da vida e da morte e para ele, essa postura até poderia ser uma virtude, como afirma,

Porque temer a morte, atenienses, nada mais é do que parecer sábio sem realmente sê-lo. Porque isso parece um conhecimento quando a pessoa não o tem na realidade. Todos deveriam saber que a morte é o bem maior do homem, mas os homens que a temem acham que ela é o maior dos males. E como pode haver maior ignorância do que achar que sabe o que na verdade não se sabe?  Mas eu, atenienses, nesse assunto talvez seja diferente dos homens. Se posso dizer que há algo no qual sou mais sábio do que os outros, seria nisso, por não ter um conhecimento competente das coisas do Hades, também acho que não tenho bom conhecimento da morte”. (Platão, 2013 Pg. 42)

Dessa forma, Sócrates pronunciou uma frase que até hoje é repetida por muitos, “só sei que nada sei”, resumindo a sua condição humana. Manifestando a sua verdade e revelando de forma pública seu modo de pensar, foi indiciado por renegar os deuses, além de corromper a juventude e ter ideias antidemocráticas, acabou sendo condenado a morrer, tomando o veneno mortal chamado cicuta.

Mas Cristo, porém, no curto período do seu ministério, dividiu o tempo em antes e depois dele. Nenhum outro filósofo, pensador, ou personalidade deixou um legado similar, no que se refere ao amor ao próximo e as diversas lições de humildade. Transformou muitas vidas apenas com uma palavra, um toque, um olhar, além de curas extraordinárias e tantos outros feitos como relata a história, que só poderia ser operado por alguém incomparável, como é o filho de Deus.

Já no campo educacional, de acordo com a apostila de estudos, História da Filosofia: a Educação na Filosofia de Sócrates, Platão e Aristóteles, na p.6, afirma que estudar Filosofia da Educação é compreender as “diferentes visões sobre o homem, suas relações sociais e interpessoais, e perceber como este processo histórico influenciará os objetivos, as formas, os métodos do ato de educar e ser educado”.

Nesse sentido, A espiritualidade está próxima da filosofia ao estimular os questionamentos acerca da vida. Essa forma de pensar, transversaliza as várias áreas do conhecimento.

Atualmente na educação, percebe-se um distanciamento da espiritualidade, por conta de um novo direcionamento do Ensino Religioso.  Reflexões acerca desse tema foram despertadas a partir do debate que se instalou após a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Sete meses depois de promulgada ela foi alterada no seu artigo 33, que versa sobre o Ensino Religioso, o qual passou a ser definido como disciplina de caráter científico e constante da grade curricular do Ensino Básico brasileiro.

Conforme Toledo e Amaral, 2003,

A questão incide sobre a proposta aprovada, que consta nos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Religioso (PCNER). Este modificou o caráter do Ensino Religioso, que, de religioso passou a ser “científico”. A questão central deste texto não é discutir a pertinência do Ensino Religioso nas unidades escolares nacionais, nem sua relevância ou não para a formação do educando, e nem, propriamente, a legitimidade da medida. Afinal, essa medida é consagrada pela Constituição Federal (1988) que dispõe: “o ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de Ensino Fundamental”.

Sendo assim, quando se pensa a espiritualidade na educação, convém dizer que ela transcende as limitações do Ensino Religioso. Supera até mesmo as denominações religiosas, pois o ensino nessa dimensão acessa a inteligência espiritual e essa nos leva a transcender além da nossa capacidade perceptiva, conforme afirma Kerber, 2009, “a ponto de se perceber valores que deem sentido a vida e que talvez nunca tenhamos nos dado conta que estes existem e não só podem como devem mudar a nossa vida” (p. 20).

Mas, obrigatoriamente passa pela crença dos professores e seu exercício de fé, para entender que Deus nos concede o supremo privilégio de trabalhar em parceria com ele no processo de ensinar e aprender. Conforme Stott, “onde a fé vê a glória, a descrença vê apenas desgraça. O que era loucura para os gregos e continua sendo para os intelectuais modernos que confiam apenas na sua sabedoria, é, contudo, a sabedoria de Deus”. (Stott 2006. p.41)

Já o Apóstolo Paulo escreveu carta aos Cristãos da pequena cidade de Colossos, no ano 62 d.C. com um alerta, como se pode ler no capítulo 2.8 de Colossenses,

Tendo cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo; portanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade.

Entende-se que exercer a racionalidade filosófica quando se trata de fé e espiritualidade, por vezes é desafiador, na medida em que ainda são emergentes os estudos da espiritualidade no cenário cientifico e educacional. Ao mesmo tempo em que se configura grande desafio encontrar a metodologia para o empreendimento de pesquisa, pois a tentativa de comprovação por meio da ciência, por um lado choca-se com a fé, por outro lado, Paulo em Romanos exorta para que a fé seja racional. “E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus”. (Romanos 12:2.)

Além de que agregar a multiplicidade de vertentes religiosas, posturas filosóficas, crenças e descrenças que compõe o corpo docente das escolas, integrar essa diversidade denominacional passa a ser uma tarefa muito árdua.

Pois como espaço de heterogeneidade pressupõe-se a multiplicação indefinida de concepções de educação e espiritualidade. Assim, quanto à concepção de educação, identificamos que ela pode ser cristã, espírita, integral, comunitária, estética, sem nenhuma descrição clara ou citação de qualquer prática correspondente; e que a educação tem vários fins: para a paz, a felicidade ou a integralidade humana, etc.

Todavia, não se pode negar que o exercício da espiritualidade, independente de crença e livre de preconceitos, traz muitos benefícios aos sujeitos humanos. Embora seja um assunto muitas vezes permeado por polêmicas e tabus, configura-se em um espaço onde não se pode prescindir da alteridade em suas vivências. Superando até mesmo diversos vícios e o consumismo, Neil Postman, em sua obra, “O Fim da Educação”, identifica o seguinte,

“A ideia motriz é que o propósito da escolaridade é preparar as crianças para o ingresso competente na vida econômica de uma comunidade. Segue-se daí que qualquer atividade escolar não destinada a promover esse fim é vista como um penduricalho ridículo, isto é, um desperdício de tempo precioso. (…) De acordo com esse deus, você é o que você faz para ganhar a vida – concepção um tanto problemática da natureza humana” (p. 34)13.

Nesse sentido, resgatar o verdadeiro propósito da educação, é na verdade um resgate da alma humana, de forma respeitosa e amorosa. E assim, utilizando o modelo de Cristo para produzir uma sociedade melhor a efeito do que aconteceu em João capítulo 13, onde Jesus lavou os pés dos discípulos como exemplo de humildade e serviço. Estabelecer a cultura em que servir uns aos outros, tem mais sentido do que viver sob a pressão do consumismo, do egoísmo e do individualismo competitivo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nessa breve reflexão, conclui-se que em todos os sentidos da vida, o ser humano está em construção e, portanto em constantes descobertas. Assim, pensar a espiritualidade na educação na lógica contemporânea é pensar uma obra inacabada, relacionada a um ser que aprende em todas as fases da vida. O educador Paulo Freire em sua Pedagogia da Autonomia, afirma que “onde a vida, há inacabamento” (Pag. 55), Mesmo quando se coloca no papel de ensinante, ou aprendente, ambos exercem o protagonismo para a construção do saber, que é produto do diálogo e do relacionamento, gerando educação e portanto, um processo de reflexão.

Sendo assim, há a possibilidade de colaboração entre fé e filosofia para uma educação mais humana.  Esta condição decorre do fato de a fé e a razão não serem de natureza heterogênea; seus resultados são, pois perfeitamente compatíveis. As várias atividades espirituais do homem formam uma unidade, ou, na expressão de Clemente, “não há senão uma única atividade espiritual, cujas denominações variam de acordo com a variedade de suas manifestações”. (Apostila, pag. 18)

Entende-se que a base da espiritualidade é o amor ao próximo. E a maravilha do amor de Deus vai além da compreensão. Assim, o ensinante precisa conquistar um lugar de confiança no coração do aprendente para que este, o autorize a ensina-lo. É o lugar da paternidade, da admiração, do respeito, da sabedoria e do amor que faz com que alguém se entregue aos cuidados daquele que poderá impulsioná-lo na aprendizagem.  

Ou ainda segundo Comenius 1965, “que todos os homens sejam educados plenamente, em sua plena humanidade” (p. 16). E educado em todos os aspectos: não para pompa e exibição, mas para a verdade; quer dizer, para tornar os homens o mais possível a imagem de Deus, na qual foram criados: verdadeiramente racionais e sábios, verdadeiramente ativos e espirituais, verdadeiramente morais e honrados, verdadeiramente pios e santos e assim verdadeiramente felizes e abençoados tanto aqui, quanto na eternidade.

REFERÊNCIAS

ALVES, Rubem. A alegria de ensinar. São Paulo: Editora Ars Poética, 1994.

Apostilas de estudos do curso Metodologia do Ensino da Filosofia. História da filosofia. UCAM.

Apostilas de estudos do curso Metodologia do Ensino da Filosofia. O pensamento medieval e renascentista, UCAM.

ARISTÓTELES, 384 a.C. a 399. Poética e tópicos I,II,III e IV. Tradução de Marcos Ribeiro de Lima; São Paulo: Hunter Books, 2013.

BARBOSA, Rafael Grigório Reis. Educação e espiritualidade no Brasil: uma analítica das estratégias teóricas.  Pará: UEPA, 2013.  

BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.

BRASIL. LDBEN. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Lei 9.394/96. 3. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

COMENIUS, JA. Pampaedia. Heidelberg: Quelle & Meyer; 1965.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários a prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

KERBER, Roberto. Espiritualidade nas empresas: uma possibilidade de humanização do trabalho. Porto Alegre, RS: AGE, 2009.

PLATÃO, 427 – 347 a.C Apologia de sócrates e crítonn/ Platão; traduzido por Alexandre Romero; São Paulo: Hunter Books, 2013.

_______, 427 – 347 a.C. A teoria das ideias./ Platão; Tradução de Adalberto Roseira; São Paulo: Hunter Books, 2013.

POSTMAN, Neil. O fim da Educação. Rio de Janeiro: Graphia; 2002.

SILVA, Antônio Gilberto da. A Bíblia através dos séculos. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2004.

STOTT, John. A cruz de Cristo; tradução de João Batista. São Paulo: Editora Vida, 2006.

TRIVINOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: A pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.

TIMM, Edgar Zanini; GARIN, Norberto da Cunha; SILVA, Clemildo Anacleto da; FOGAÇA, Diógenes Antônio. Religião, confessionalidade, espiritualidade e educação: dimensionando possibilidades conceituais para suas relações no contexto da contemporaneidade. Revista de Educação do Cogeime – Ano 25 – n. 48 – janeiro/junho 2016.  Disponível em: <https://www.redemetodista.edu.br/revistas/revistográfico/index.php/COGEIME/article/view/500/586>acessado em: 20/06/2017.

TOLEDO, Cézar de Alencar Arnaut – AMARAL, Tânia Conceição Iglesias. Análise dos parâmetros curriculares nacionais para o ensino religioso nas escolas públicas. 2003. Disponível em: <http://www.histedbr.fe.unicamp.br/revista/revis/revis14/art9_14.pdf> Acessado em: 21/08/2017.

Deixe um comentário